O HOMEM BEM-AVENTURADO

Mariano B.Marques

Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido (Salmos 1: 1-3).

A ideia que os gregos antigos tinham de bem-aventurado (makários) era a de viver livre de preocupações e sofrimentos. Para os judeus, era a de bem-estar material, principalmente como recompensa pela observância da Lei de Moisés. Para milhões de cristãos, hoje, é ser feliz – um estado de felicidade emocional pelas bênçãos materiais que recebe de Deus – saúde, prosperidade financeira e profissional,  ausência de problemas, e assim por diante.

No entanto, nesse salmo, ser bem-aventurado é viver   num estado de graça divina de santidade de caráter e da aprovação de Deus, não importa se se possui ou não bens terrenos. Tanto faz ser na saúde como na doença, na abastança ou na escassez, na riqueza ou na pobreza.  As coisas desejáveis podem estar presentes, ou não, nesse estado de graça e aprovação divinos vivido na presença de Deus.

Observe o caráter e o estilo de vida desse homem, e entenda porque ele é bem-aventurado: não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Isso é excelência de caráter! O caráter que reflete o caráter de Deus e o glorifica.

Conselho dos ímpios tem a ver com os valores da mente harmonizada com o pensamento e as ideologias da sociedade sem Deus, a mente materialista, humanista, secularizada, egocêntrica, centrada na autogratificação, nos prazeres pecaminosos aos olhos de Deus.

Caminho dos pecadores também se refere à maneira pecadora de pensar e viver: sem temor a Deus; tem a ver com a fome de satisfazer aos desejos da natureza caída; tem a ver com a degradação moral e o apego prazeroso ao pecado. Claro, esse é o caminho dos pecadores deliberados.

Por que esse homem consegue viver de maneira sábia, separada do caminho dos pecadores, no caminho da vida santificada? Resposta: porque o seu prazer está na lei do Senhor, e nela medita de dia e de noite! Ele se deleita nela. Claro que, para possibilitar essa meditação contínua, ele tem grande parte dela de cor. Ou seja, a sua mente está cheia da lei do Senhor. E quanto mais medita nela, mais deseja viver de acordo com ela.  E, assim, ela vai moldando o seu caráter para refletir, cada vez mais, o caráter de Deus.

Esse homem é como árvore plantada junto à corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha. Essa comparação é uma figura de linguagem para significar que ele tem vida interior abundante, vigorosa e frutífera porque vive fundamentado na lei do Senhor, inclusive nos seus negócios e relacionamentos. Seus pensamentos e suas ações glorificam a Deus, a despeito das suas falhas. Afinal, ele é um pecador santificado e nutrido pela graça de Deus. E é a lei do Senhor, da qual sua mente está encharcada pela meditação contínua nela, e a maravilhosa graça de Deus que o fortalecem e o sustentam nessa condição de bem-aventurado na presença de Deus.

E, então, vem o bônus de Deus para a sua vida: tudo o que ele fizer será bem-sucedido. E mesmo que não o seja, ele permanece na lei do Senhor e    na sua fidelidade a Ele.  O que ele pode receber de Deus não é a sua motivação para viver de maneira agradável a Ele, pois não é materialista, nem egocêntrico. Ele é teocêntrico, e por isso aceita, com humildade, a soberania de Deus sobre sua vida.

Esse homem se deleita em Deus e na sua lei, e não naquilo que pode receber dele, embora lhe seja profundamente grato pelas bênçãos divinas. É por isso que medita tanto na lei do Senhor: para conhecer mais a Deus e a si mesmo pela perspectiva divina e viver de acordo com ela e, assim, agradar e glorificar ao Senhor. Ele ama a Deus e a sua lei. O seu relacionamento com Deus é de submissão amorosa, e, não, de barganha.  E porque ama a Deus, deseja que o seu caráter e maneira de viver sejam moldados pela lei do Senhor.  Bem-aventurado o homem — ou a mulher — que assim procede.